Novos Rumos da Moda – O futuro dos desfiles

O post de hoje inaugura mais uma seção do novo site, a Fashion Business. Este vai ser um espaço para abordar temas voltados especificamente aos negócios da moda, assuntos que estão rolando entre pessoas da indústria, que a movimentam desempenhando suas funções. Não pensem que o assunto é “menos moda” do que uma tendência ou um desfile, pelo contrário: isso respira moda! É parte da engrenagem dessa indústria, por isso convém ficar de olho! Hoje chamo vocês para ficar por dentro dos novos rumos da moda.

Novos rumos da moda: qual será o futuro dos desfiles? O Oh My Closet te explica porque tudo está mudando.

Estão sabendo que o mundo da moda está semi-abalado, quase pisando em ovos? Parece exagero, mas estamos sim em tempos de mudança. O mundo que antes só enfrentava algum tipo de saturação no quesito inventividade nos designs agora se depara com a saturação do atual modelo de apresentação das coleções.

Os desfiles sempre foram a solução mais adequada por inúmeros motivos mas, agora (especialmente com o boom das redes sociais), eles começam a se apresentar ineficientes – quando não fora de propósito – do ponto de vista de mais de uma ponta do negócio em questão. Sim, moda é um negócio, uma máquina, que envolve incontáveis frentes e requer que todas estejam funcionando para tudo dar certo.

Então passo a explicar. Entre as inúmeras variáveis da moda podemos destacar quatro pontas: o consumidor, os estilistas, os revendedores e a imprensa. A moda e, por consequência, os desfiles precisam estar afinados com as quatro para que o conjunto faça sentido e atinja o potencial planejado. Vocês estão se perguntando o que está acontecendo? – Pelo menos três dessas pontas não estão satisfeitas com o atual modelo e calendário dos desfiles que fazem a moda acontecer, especialmente os consumidores.

Deixa eu desenrolar e demonstrar com fatos. Essa semana está acontecendo o NYFW e um dos desfiles mais falados foi o de Diane Von Furstenberg, isso porque não foi um desfile tradicional, com passarela, front row e modelos engessadas. DVF armou um ambiente e clima muito mais intimistas do que isso, colocando as modelos para circular e dançar em um espaço aconchegante ao som de “We Are Family”.

Diane Von Furstenberg muda seu modelo de apresentação. Esse e outros sinais de que a moda está em transição estão no Oh My Closet, vem ver!

Esse é um sinal ainda sutil de que os tradicionais desfiles já cansaram a beleza de quem precisa dele. A sensação geral é de que os desfiles foram banalizados e que não mais atingem o objetivo.

Cada vez que se fazia uma alteração no calendário de desfiles (distanciando-os mais e mais do lançamento de fato das coleções), a gente – e aposto que você também – se perguntava: mas que diabo é isso? Estamos cada vez mais adiantando algo que não será palpável pelos próximos meses.

Este foi o estopim para que a Burberry anunciasse duas notícias bombásticas: 1 – Ela vai desfazer seu modelo atual de desfiles para reunir em apenas 2 eventos anuais as apresentações tanto da coleção masculina quanto da feminina; 2 – Ela vai adotar, ainda, o modelo “veja agora, compre agora”, que há muito vem sendo discutido e testado sutilmente por outras marcas. Isso significa que a coleção estará disponível tanto nas lojas físicas quanto nas plataformas online assim que acabar o desfile.

Burberry muda o modelo de desfiles. Venha entender o que está mudando na moda no Oh My Closet!

Christopher Bailey, diretor criativo da Burberry.

Enfim chego a um ponto importantíssimo. Essa é uma resposta a uma insatisfação antiga dos consumidores, que não entendiam o porquê e não apreciavam o fato de as coleções serem exibidas em uma estação e só disponibilizadas 6 meses depois. Do ponto de vista de quem quer comprar chega a ser loucura desejar algo que só poderá ser comprado daqui a 6 meses, não é? Esse é um dos fundamentos que Christopher Bailey, diretor criativo da Burberry, aponta para a mudança que a marca fez.

Tom Ford, seguindo a mesma linha de pensamento, cancelou seu desfile de fevereiro e vai apresentar o mesmo modelo (veja agora, compre agora), tudo para se adequar a um mundo em que a velocidade com que as coisas acontecem e são divulgadas já não era condizente com o prazo de entrega.

Por fim, a  reflexão. Poderia me aprofundar muito mais em cada uma das pontas da moda (consumidores, marcas, revendedores e imprensa), mas só a mudança em relação à primeira já é indicativo suficiente das mudanças que estão ocorrendo. O que cabe perguntar é: como criar um modelo que seja viável para os quatro?

Essa é a pergunta que o CFDA (Council of Fashion Designers of America) já se fez e, para solucionar o quebra-cabeça, já contratou profissionais capacitados. Claro que o consumidor tem a “urgência”, a vontade louca de poder comprar logo o que ele viu na passarela. Ao mesmo tempo, essa entrega imediata pode se tornar complicadíssima do ponto de vista da manufatura, que requer tempo do início da produção da matéria-prima até a confecção e entrega das coleções.

Nas outras pontas ficam os revendedores e a imprensa. Os primeiros podem se beneficiar da entrega mais rápida, ao mesmo tempo que haveria uma demanda de mais tempo com os estilistas antes do lançamento oficial de uma coleção, o que nem sempre é fácil de administrar. Se a coleção vai ser apresentada e vendida de imediato, o comprador de moda já precisa estar a par do que a marca está preparando para a estação para poder escolher o que vai para as lojas (atendendo justamente à necessidade do consumidor de comprar de imediato).

Enquanto isso, a imprensa pode ver reduzida a importância de seu papel se os desfiles passarem a ter como plateia somente o consumidor final (outra possibilidade que se cogita no meio). Muita coisa para se avaliar, muita mesmo!

Enquanto isso a gente aguarda pra ver, mas a tendência mais forte é de que mais marcas de grande porte se programem para apresentar e vender as coleções imediatamente. Como os novos rumos da moda vão afetar o resto da cadeia é o que precisa ser estudado com cautela.

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